segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os desastrosos erros políticos dos EUA

Os desastrosos erros da política dos EUA no espaço geopolítico entre o Mediterrâneo Oriental e a Índia

António Bica

            Para os EUA, depois da segunda Grande Guerra, que acabou em 1945, todos os meios serviram para hostilizar a União Soviética na chamada Guerra Fria. No espaço geopolítico da margem oriental do Mediterrâneo ao Irão, os EUA passaram a apoiar incondicionalmente Isarel na sua política de se apossar de toda a terra da Palestina e de dela expulsar os palestinianos.
            Sustentaram, além disso, politicamente os conservadores autocratas dos países da região (casa real saudita, na Arábia Saudita, o Xá do Irão, as monarquias do Egipto, Iraque, Líbia e Jordânia e os Emirados Árabes).
            Quando as monarquias da região foram caindo derrubadas por movimentos republicanos, laicos, igualitários (no Egipto, Iraque, Líbia, Afeganistão) apoiaram a criação de movimentos político-religiosos inspirados e financiados pela Arábia Saudita hostis aos novos regimes republicanos para os combater.
            Reagiram com grande hostilidade ao derrube, em 1979, do Xá do Irão que por golpe de Estado haviam instalado no poder em 1953 com o auxílio inglês, o qual obedecia à política ditada pelos EUA.
            Quando a monarquia afegã caiu, na década de 1970, enquadraram, financiaram e treinaram dezenas de milhares de jovens dos movimentos político-religiosos conservadores inspirados pela Arábia Saudita, nos países islâmicos, para combater no Afeganistão o regime republicano e as tropas soviéticas que o apoiavam.
            Quanto ao Paquistão e à Índia, os EUA, descontentes por a Índia ter aderido e liderado o movimento dos países não-alinhados que procuravam manter-se equidistantes na década de 1950 das políticas de confronto entre os EUA e a URSS, financiaram e apoiaram o Paquistão contra a Índia, com pretexto na divisão entre os 2 países do estado de Caxemira, levando-os a 4 mortíferas guerras na terra de Caxemira e, posteriormente, depois de a Índia passar a produzir bombas atómicas, facilitando ao Paquistão a aquisição da tecnologia para também as fabricar e assim se manter em paridade militar com a Índia.
            No fim da década de 1970, no Irão caiu o Xá substituído por regime republicano de inspiração religiosa islâmica xiita, o que pôs fim ao domínio político estadunidense sobre o Irão. Isso enfureceu o governo dos EUA, que viram desse modo fugir-lhes o lucrativo negócio do petróleo iraniano.
            Embora os EUA tivessem anteriormente hostilizado o partido republicano que havia, na década de 1960, derrubado a monarquia no Iraque, aliaram-se no fim da década de 1970 ao regime, em que acabara de chegar ao poder Saddam Hussein, a quem prometeram o domínio sobre a parte ocidental do Irão, a mais rica em petróleo, fornecendo-lhe armas, nomeadamente químicas de destruição em massa para abrir guerra contra o Irão. Essa guerra entre o Irão e o Iraque durou quase uma década, tendo acabado com derrota das tropas iraquianas invasoras e a perda de cerca de 2 milhões de vidas em ambos os países.
            No fim da década de 1980, o Iraque, talvez convencido que os EUA mantinham o apoio dado contra o Irão, ou pelo menos se manteria neutro, invadiu o Kuwait, antiga província iraquiana, sob pretexto de sempre ter sido teritório iraquiano. Os EUA reagiram decidindo expulsar o Iraque do território do Kuwait.
            Os “afganis”, o movimento fundamentalista religioso que os EUA haviam fomentado, armado, treinado e liderado para combater no Afeganistão o regime progressista afegão e as tropas soviéticas ofereceram-se para combater o regime iraquiano e expulsá-lo do Kuwait por ser republicano e laico.
            Os EUA rejeitaram a oferta e decidiram instalar no território da Arábia Saudita poderosas bases militares para o fazer e que aí mantiveram após a guerra do Golfo.
            Os “afganis”, sob liderança de Bin Laden, então a viver na Arábia Saudita, organizados no movimento Alcaida, opuseram-se vivamente ao que chamaram a “conspurcação da terra sagrada do Islão pelas tropas infiéis” dos EUA. Em consequência declararam-se inimigos do reino saudita por autorizar a instalação das bases militares estadunidenses.
            A partir de então sucederam-se as acções militares da Alcaida contra os EUA (ataques a embaixadas, a bases militares na Arábia Saudita, a navios de guerra, até culminar no espectacular ataque de 11 de Setembro às Torres Gémeas de Nova Iorque). O objectivo da Alcaida é público: pretende restaurar o medieval califado de Bagdade que caiu na Idade Média às mãos dos mongóis, e se estendia da Espanha à Índia, pregando para isso a “jihad”, guerra santa, para converter pela persuasão ou pela força todo o mundo à religião islâmica com submissão ao poder do califado.
            Os EUA criaram esta teia para enredar nela a União Soviética, que caiu por outras causas. Mas a Alcaida e o seu movimento religioso fundamentalista para a reconstrução do califado islâmico sunita não desapareceu passando a enredar os EUA.
            É o que agora se vê com maior incidência nessa vasta e complexa região entre o Mediterrâneo oriental e a Índia. Não parece que os EUA tenham até agora encontrado a melhor estratégia para combater o projecto da Alcaida de reconstrução do califado, ou sido capazes de a pôr em prática.
           

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