segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Enredados os EUA pelas suas mãos

Enredados os EUA, pelas suas mãos, nas complexas questões da região do Mediterrâneo oriental à Índia, só as solucionarão com lucidez e coragem política

António Bica

            Em anterior texto sobre a vasta região que vai do Mediterrâneo à Índia abordaram-se as principais questões em que os EUA aí se enredaram. Essas questões resolvem-se se se retirar razão aos agravados que são:
-          os palestinianos que na sua terra são oprimidos por Israel com apoio dos EUA;
-          os iranianos fortemente hostilizados pelos EUA, que sendo islâmicos seguem a corrente xiita que se separou há 1.500 anos da corrente maioritária no Médio Oriente sanita seguida no califado de Bagdad que fortemente a hostiliza;
-          os paquistaneses usados pelos EUA contra a Índia para a hostilizar por não se submeter à política internacional dos EUA;
-          os iraquianos, especialmente os sunitas, por os EUA liderados por Bush terem invadido o seu país para passarem a dominar o mercado mundial do petróleo.

O fundamentalismo da Alcaida
O movimento islâmico político-religioso fundamentalista liderado pela Alcaida sustenta-se destas humilhações, defendendo como resposta a reconstrução do medieval califado de Bagdad, pretendendo pela “jihad” (guerra santa) alargá-lo a todo o mundo com conversão ao islamismo por persuasão ou pela força. Sem se eliminar as fontes de humilhação dos quase mil milhões que professam o islamismo sunita não se estancam as fontes de recrutamento de jovens muçulmanos apostados em lutar pelo ressurgir do mítico califado sacrificando as suas vidas, convencidos de que o sacrifício lhes assegura pessoalmente lugar certo no céu e à “Umma” (pátria árabe) o domínio universal na submissão a Allah. A aspiração ao ressurgir do califado assenta na corrente religiosa fundamentalista wahabita seguida na Arábia Saudita por imposição da casa real saudita que esperançada em da sua cepa virem a sair os grandes condutores dos crentes do califado universal e mais poderosos que os medievais de Bagdad. Os governos dos EUA, desde o início da década de 1950, estimularam essa corrente fundamentalista religiosa para a usar contra o que lhe apontava então como o inimigo – a URSS. Fizeram-no com êxito, especialmente na luta contra o regime progressista afegão, na década de 1980, e as tropas soviéticas que haviam entrado no Afeganistão em seu apoio.

O colapso da União soviética
Desaparecido o inimigo principal com o colapso da URSS no princípio da década de 1990 e em consequência da instalação então de poderosas bases militares na Arábia Saudita, a corrente fundamentalista islâmica mais radical, liderada por Bin Laden e federada na Alcaida, voltou-se contra os EUA, e depois, na sequência da invasão do Iraque, os países deles mais seguidistas (Inglaterra de Blair, Espanha de Aznar).

A eleição de Obama
Nos EUA, em 2009, a Bush sucedeu Obama, que os estadunidenses elegeram na esperança de ser capaz de conduzir o país por novos caminhos políticos. A sua origem étnica (meio preto, meio branco) e o seu nome islâmico e africano, sorridente, aparentando ser ponderado nas decisões, levaram-no à presidência do país que é actualmente o mais poderoso do mundo e o que enfrenta os maiores desafios, os indicados no início deste texto.
Se Obama não for capaz de:
-          fazer retirar Isarel dos colonatos e da terra ocupada militarmente em 1967;
-          fazer abandonar aos EUA a pulsão de vingança contra os iranianos que em 1979 tomaram a sua embaixada em Teerão e mantiveram, por mais de um ano 50 americanos detidos;
-          pôr termo à hostilidade entre a Índia e o Paquistão à volta de Caxemira, libertando as forças políticas paquistanesas para controlar no Afeganistão e no Paquistão o fundamentalismo islâmico;

não resolverá bem os principais problemas que agudamente se põem nesta região do mundo e de que depende a boa solução dos outros: a reorganização do sistema financeiro internacional, redução das gigantescas despesas militares estadunidenses, a concertação no âmbito da ONU e em dialogo com os espaços políticos com maior peso económico e demográfico para a solução das principais questões da política internacional, incluindo a do equilíbrio orçamental.
            E pode não ser capaz, não por não saber analisar com lucidez as questões referidas, mas por não conseguir do povo estadunidense, da Câmara dos Representantes e do Senado apoio suficiente para o fazer.
            Poderá ainda, não havendo que desconsiderar essa possibilidade, ser Obama vítima de assassínio como foram outros presidentes dos EUA, que a maioria dos estadunidenses brancos talvez não aceite ter como Presidente um mulato com nome árabe e africano.


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