segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Notas sobre o mundo islâmico (3)

Notas sobre o mundo islâmico (3)

António Bica

Foi curta a dinastia dos califas Omeidas que tinham capital em Damasco da Síria. Em 750 Abu Abas, descendente de Abas tio do profeta Muhámade fundador da religião islâmica, então governador de uma região da Pérsia, pôs fim à dinastia Omeida, matou os seus descendentes, com excepção de um, que conseguiu fugir para a Espanha, e passou a capital do califado para Bagdade, na margem do rio Tigre, na Mesopotâmia, hoje o Iraque. O mais notável califa abássida foi Harum Alrachide referido em muitos dos contos das Mil e Uma Noites.
Pouco a pouco o poder político no extenso território do califado foi-se diluindo. A Espanha islâmica, o Al-Andalus, tornou-se independente sob a chefia do último omeida, Abderramã, que conseguira fugir da matança da família pelos novos califas abássidas. A região da Mauritânia separou-se do califado de Bagdade, passando a ser governada por descendentes de Fátima (filha de Muhámade) e de Ali, que se intitularam califas. Esta dinastia, chamada Fatimida, alargou o domínio até ao Egipto que governou até ao fim do século 12.
No século 10 os califas de Bagdade, nas extensas regiões do califado, já só detinham poder simbólico. Os turcos seldjúcidas haviam descido da região de Samarcanda para as terras persas do Korassã. Tomaram depois Bagdade que governaram com o título de sultões sem destronar os califas Abássidas, cujo poder se tornou mera fonte de legitimação para os senhores dos múltiplos territórios islâmicos autónomos que não se haviam proclamado califados.
O Império Romano do Oriente manteve a capital em Constantinopla e o largo território da Ásia Menor, hoje Turquia, até à chegada dos turcos seldjúcidas a partir do Korassã, na Pérsia, que, pouco a pouco, se apoderaram do território da Ásia Menor até então parte do Império Romano do Oriente.
Entretanto na Europa ocupada pelos bárbaros germânicos desenvolveu-se a produção agrícola, as cidades começaram a desenvolver-se, o comércio pouco a pouco renasceu. Este desenvolvimento da economia europeia fez ressurgir a procura dos míticos bens do oriente (da Índia e da China), que durante o Império Romano chegavam em abundância à posse dos mais ricos.
No governo dos califas Abássidas o Médio Oriente prosperou com o comércio, primeiro entre o oriente e o Império Romano do Oriente e depois com a Europa Cristã por intermediação das repúblicas marítimas e comerciais italianas: Veneza, Génova e outras. Esse comércio era a base da prosperidade económica do mundo islâmico do Médio Oriente nas Mil e Uma Noites, a principal obra literária árabe da Idade Média, os mercadores são das mais frequentes personagens dos contos.
Na Espanha o califado de Córdova consolidou-se e prosperou na agricultura, no artesanato, na construção, na literatura e nas demais artes, até ao princípio do século 11, em que se desintegrou nos pequenos reinos de Taifas demasiado fracos para resistir ao avanço dos reinos cristãos do norte. 
Pelo fim do século 11 e início do século 12 o mundo islâmico sofreu a primeira grande ofensiva militar da Europa cristã: Na Península Ibérica os reinos cristãos estenderam-se para sul e os reinos cristãos da Europa Central e da Itália invadiram a faixa litoral do Mediterrâneo Oriental com as Cruzadas, do que em próximo texto se escreverá.

Sem comentários:

Enviar um comentário