segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Como nasceram e evoluíram os movimentos religiosos fundamentalistas

COMO NASCERAM E EVOLUÍRAM OS MOVIMENTOS RELIGIOSOS FUNDAMENTALISTAS ISLÂMICOS E OS EUA SE ENREDARAM NELES

António Bica



1. O ATAQUE ÀS TORRES GÉMEAS E AO PENTÁGONO
Em 11/9/2001 dois aviões comerciais saídos de Boston destruíram os dois maiores edifícios de Nova Iorque, onde funcionava o controle da finança mundial. Outro avião destruiu parcialmente o edifício do Ministério da Guerra (conhecido por Pentágono) na cidade que é capital dos Estados Unidos da América do Norte.
Os aviões que atingiram o Pentágono e os edifícios de Nova Iorque foram conduzidos para os alvos por alguns passageiros com capacidade para pilotar aviões que forçaram os pilotos a deixar os comandos e conduziram-nos de forma a embater nos edifícios.
Foram terríveis acções. Morreram milhares de pessoas. O presidente dos Estados Unidos da América do Norte considerou-as, não como actos criminosos que foram, mas como actos de guerra, que são acções de hostilidade militar entre estados, ou de hostilidade militar entre organizações políticas do mesmo estado que disputam o poder político. Em ambos os casos há adversários definidos e conhecidos. O que aconteceu em 11/9/2001 nos Estados Unidos da América do Norte não foi isso. Foram actos de guerra, como declarou o presidente norte americano, ou actos criminosos?


2. CRIMES OU ACTOS DE GUERRA

Não é indiferente a qualificação. Se foram actos de guerra, à luz da prática militar do século 20, a morte de civis foi consequência admitida pelos Estados Unidos da América do Norte, como o fizeram na Segunda Grande Guerra ao bombardear sistematicamente, causando centenas de milhares de mortos, as casas de habitação dos civis das cidades alemãs, como Dresden, ou de cidades ocupadas militarmente pelos alemães, e as cidades japonesas de Tóquio, Hiroshima e Nagasaqui, estas duas últimas com bombas atómicas. Depois essa prática continuou no Vietname nas décadas de 60 e 70, e, recentemente, na Jugoslávia, onde os norte americanos justificaram as numerosas mortes de civis e os ataques a edifícios não militares, incluindo aos serviços de televisão jugoslavos e à embaixada da China, como admissíveis “ efeitos colaterais”.


3. QUEM É O AUTOR DOS ACTOS

 Ao qualificar os actos de destruição e morte de 11/9/2001 como actos de guerra o governo dos Estados Unidos da América do Norte declarou guerra a quem os desencadeou. Como nenhum governo reivindicou as destruições de edifícios e as mortes em 11/9/2001, considerou-se no direito de fazer a guerra ao Afeganistão onde declarou situar-se a chefia da organização Alcaida a que atribuiu os actos.
O que foi então dito nos Estados Unidos da América do Norte e repetido pelo governo da Inglaterra levou a acções militares com grande destruição de vidas de civis, de casas e de estruturas económicas no Afeganistão, com o fundamento de aí viver Bin Laden  considerado chefe da Alcaida e de este ter, segundo o declarado pelo governo dos americanos do norte, organizado e ordenado a destruição dos 3 edifícios em 11/9/2001.
Mesmo sendo verdade o que o governo norte americano disse sobre Bin Laden, o que aconteceu em Nova Iorque e Washinton não terá sido acção de guerra, mas acto criminoso. O governo americano tinha o direito e o dever de procurar que os responsáveis pelo crime fossem julgados, mas não o de desencadear acções militares contra o Afeganistão ou qualquer outro país.


4. A OPOSIÇÃO DOS EUA AOS NASCENTES REGIMES PROGRESSISTAS NO MÉDIO ORIENTE

Para melhor se entender os factos e as suas intrincadas motivações deve relembrar-se que Bin Laden fez estudos superiores na Inglaterra e foi financiado pelo governo americano, na década de 80, para recrutar, doutrinar, treinar e armar jovens nos países islâmicos para serem usados então no Afeganistão contra as tropas soviéticas. Com isso fez fortuna. Depois da saída dos soviéticos do Afeganistão, passou a organizar jovens fundamentalistas islâmicos que aí lutaram, nos países donde eram originários, após a eles regressarem, como na Argélia, no Sudão, no Egipto e outros países, para neles se oporem aos regimes considerados laicos.
A facção Taliban, que detinha em 2001 o poder na maior parte do território afegão, havia-o conquistado com o apoio do governo norte americano através do governo paquistanês que controlava e controla. O apoio aos Talibans, que são islâmicos sunitas wahabitas radicais, foi dado para impedir a partilha do poder no Afeganistão com os afegãos islâmicos xiitas pró-iranianos, dado que o governo norte americano continua a considerar o governo iraniano, que sucedeu ao seu protegido rei deposto (o xá da Pérsia) no fim da década de 70, como inimigo.
O governo dos Estados Unidos da América do Norte substituiu no Médio Oriente, depois do fim da Segunda Grande Guerra, o domínio imperial da Inglaterra. Interessava-lhe dominar os governos da região para controlar o petróleo e proteger os judeus instalados na Palestina ao abrigo da Declaração Balfour. Apoiou para isso os regimes conservadores autocráticos do Egipto, da Líbia, do Iraque, da Jordânia, da Arábia, dos Emiratos.
No Irão de monarquia constitucional, em 1953, depois de o progressista e laico Mossadegue ter ganho as eleições legislativas, os norte americanos, com colaboração inglesa, conspiraram e agiram para derrubar o governo então eleito e entregar o poder político ao rei que passou, sob controle norte americano, a governar despoticamente o país.
No Egipto o movimento de jovens militares laicos e progressistas derrubou, no início da década de 1950, a monarquia e fez, com Nasser, a reforma agrária, nacionalizou o Canal do Suez, defendeu o nacionalismo árabe e propôs-se apoiar o povo da Palestina expulso das suas terras pelos judeus e o Estado de Israel.
No Iraque o partido Baas seguiu o exemplo dos jovens militares egípcios, derrubando a monarquia instalada pelos ingleses depois da derrota dos turcos na Primeira Grande Guerra.
Na Líbia também um movimento de jovens militares, seguindo o exemplo egípcio, derrubou a monarquia.
Os governos norte americanos ficaram preocupados com o reforçar da frente árabe contra o estado de Israel, que entretanto, em 1948, se havia constituído, e as reivindicações dos novos governos progressistas e laicos que defendiam que os recursos nacionais, incluindo o Canal de Suez e o petróleo, fossem usados para desenvolver a riqueza nacional, a educação e a promoção da igualdade, incluindo das mulheres.
O governo norte americano sentiu-se ameaçado pelos regimes políticos progressistas árabes no que qualificava como seus interesses no Médio Oriente. E o regime monárquico autocrático e medieval da Arábia temeu ser derrubado. Ambos os governos se coligaram para combater os regimes que o nacionalismo progressista e laico árabe fez nascer no Médio Oriente a partir do inicio da década de 1950.


5. OS EUA ORGANIZARAM MOVIMENTOS RELIGIOSOS FUNDAMENTALISTAS PARA SE OPOREM AOS REGIMES PROGRESSISTAS NO MÉDIO ORIENTE
O combate foi organizado com base ideológica na corrente religiosa fundamentalista wahabita, que é a seguida no reino da Arábia, com direcção estratégica dos Estados Unidos da América do Norte e apoio financeiro do reino da Arábia. Milhares de milhões de dólares foram mandados, sob orientação dos Estados Unidos da América do Norte, pelo reino da Arábia, acompanhados de pregadores wahabitas do reino da Arábia, para os países árabes com regimes laicos progressistas.
Esses pregadores usaram o dinheiro para organizar, sob capa religiosa, as camadas sociais mais pobres e fanatizá-las contra o laicismo dos regimes dos seus países. Assim nasceram e se desenvolveram, desde o início da década de 1950, os movimentos político-religiosos fundamentalistas no Egipto (Irmãos Muçulmanos), no Iraque, na Síria, na Líbia e na Argélia, inspirados na corrente religiosa wahabita. Na Palestina, com propósito idêntico, Israel fomentou o nascimento e a implantação do Amas.
Quando, na monarquia constitucional do Afeganistão, na década de 1970, os partidos progressistas, entre eles o Partido Comunista, ganharam as eleições, os Estados Unidos da América do Norte e o reino da Arábia enviaram dinheiro e pregadores wahabitas para combater o novo governo. À instabilidade política que assim foi criada respondeu o governo afegão, em que o Partido Comunista tinha peso, com pedido de apoio militar à União Soviética, que não teve o senso político de o não prestar senão com armamento.
A entrada militar soviética no Afeganistão levou os Estados Unidos da América do Norte e o reino da Arábia a recrutar jovens fundamentalistas religiosos nos países árabes e muçulmanos, onde haviam criado organizações político-religiosas de oposição aos regimes progressistas, e a treiná-los, armá-los e enviá-los para o Afeganistão.
Para a União Soviética foi o reverso do que fora o Vietnam para os Estados Unidos da América do Norte.
O originário do reino da Arábia, Bin Laden, religioso fundamentalista wahabita, foi um dos enviados para recrutar, doutrinar e treinar jovens combatentes islâmicos fundamentalistas.
Acabada a guerra no Afeganistão contra o regime progressista e os soviéticos, no fim da década de 1980, o Iraque, no início da década de 1990, ocupou militarmente o Queite, emirato árabe grande produtor de petróleo. O vizinho reino da Arábia sentiu-se ameaçado. Os Estados Unidos da América do Norte consideraram que o controle político pelo Iraque de tão grandes reservas de petróleo, como são as do Iraque somadas às do Queite, poderia ser perigoso para os seus interesses, não obstante o regime iraquiano de Sadam, embora de origem progressista e laica, se ter posto, no início da década de 1980, ao serviço dos norte americanos para combater o regime clerical xiita do Irão.
Era necessário, para combater o governo do Iraque, instalar bases militares americanas no reino da Arábia. O rei da Arábia aceitou e os fundamentalistas religiosos wahabitas não se opuseram, porque a acção militar era contra o regime iraquiano de matriz progressista e laica.
Os iraquianos foram expulsos do Queite, mas os soldados norte americanos não abandonaram o reino da Arábia. A corrente mais rigorosa do fundamentalismo árabe wahabita, a que pertence Bin Laden, passou a opor-se a que as tropas americanas continuassem a ocupar o reino da Arábia após a guerra de 1991 contra o Iraque por não serem de religião islâmica.
Assim começou a criar força e organização e a voltar-se contra os Estados Unidos da América do Norte a corrente político-religiosa wahabita mais fundamentalista chefiada por Bin Laden, que anteriormente havia estado ao serviço da política norte americana no Médio Oriente.        
Até então, início da década de 1990, os movimentos fundamentalistas religiosos, organizados e financiados pelos EUA para se oporem aos movimentos políticos progressistas do Médio Oriente, não haviam arvorado a bandeira política da luta contra a ocupação da Palestina por Israel. Quando os EUA se recusaram, no início da década de 1990, a retirar as suas bases militares da Arábia Saudita, que os movimentos religiosos fundamentalistas consideram terra sagrada do Islão, passaram a considerar os governos estadunidenses como o inimigo. Para se legitimarem junto dos povos árabes e islâmicos, passaram a adoptar como sua a causa palestiniana contra Israel, luta que então sempre havia sido liderada apenas por movimentos progressistas e laicos do Médio Oriente.


6. O CONFLITO NA PALESTINA

A partir de então as organizações islâmicas radicais, entre elas a de Bin Laden, têm defendido e praticado acções contra os norte americanos também com fundamento em o governo norte americano dar apoio militar, económico e diplomático ao seu incondicional aliado, o estado de Israel, que mantém, há quase 60 anos, a ocupação militar do país dos palestinianos, a usurpação das suas terras para instalação de colonatos de judeus, a destruição sistemática de casas, o assassínio de dirigentes palestinianos, e a expulsão, desde 1948, por Israel, de centenas de milhares de palestinianos das suas casas e terras. Tudo isto apesar de resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas reconhecerem o direito de regresso às suas casas e terras em Israel dos palestinianos expulsos pelo estado israelita, e ordenarem a retirada militar dos territórios da Palestina e o desmantelamento dos colonatos judeus. Esta situação de injustiça mantém-se porque os Estados Unidos da América do Norte têm servido de escudo protector ao estado de Israel.


7. O FACTOR RELIGIOSO

Neste conflito entre palestinianos e o estado de Israel cada parte segue a sua religião: os palestinianos o islamismo e o estado de Israel o judaísmo. Assim, neste conflito de há 60 anos, uma religião é factor de unidade entre os judeus de todo o mundo, que não são muitos, mas são poderosos, porque controlam a grande finança mundial e os grandes meios de comunicação social americanos e europeus, e a outra entre os seguidores do Islão, que são na sua maioria pobres, mas numerosos, cerca de mil milhões de milhões.
Quando as religiões são usadas na política, rapidamente ela abandona os discursos racionais e as atitudes pragmáticas para se entrincheirar em posições inflexíveis. Foi assim nos séculos 12 e 13 com as Cruzadas na terra da Palestina, nos séculos 16 e 17 com as guerras religiosas entre protestantes e católicos na Europa, recentemente, na década de 1990, na guerra entre católicos croatas, ortodoxos sérvios e muçulmanos bosníacos na Jugoslávia, e na Irlanda do Norte entre católicos e protestantes.
A situação de conflito actual mais injusta, em que as fronteiras da guerra são também de religiões, é na Palestina, e não se vê saída para o contínuo martírio dos palestinianos, só porque o governo americano tem apoiado o estado de Israel mesmo nas acções de flagrante injustiça.
Não é por isso de admirar que este arrastado conflito palestiniano seja sentido, entre as centenas de milhões de seguidores da religião islâmica como causa sua.


8. A GUERRA NO AFEGANISTÃO

Parece confirmar-se que o ataque aos edifícios nova-iorquinos e ao ministério da guerra americano em 11/9/2001 foi obra do grupo islâmico fundamentalista Alcaida, de que Bin Laden é dirigente, reagindo com justificação religiosa contra o governo norte americano, por este, ao apoiar o estado de Israel, mesmo nas acções injustas, estar a perpetuar o sofrimento dos palestinianos, e por se recusar a retirar as bases militares norte americanas que instalou no reino da Arábia. E, se assim foi, o governo norte americano, além de dever procurar levar a julgamento os responsáveis pelos crimes cometidos em 11/9/2001, terá que alterar a política internacional que tem seguido na Palestina e em todo o mundo e de deixar de seguir a política arrogante e injusta que tem seguido em nome dos interesses americanos, como se tudo no mundo se devesse sacrificar a eles.
Mas não é isso que tem feito até agora. No fim de 2001, com o apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os Estados Unidos da América do Norte fizeram a guerra ao Afeganistão sob o pretexto de aí viver Bin Laden e de combate ao terrorismo. Foi fácil ao exército norte americano vencer no Afeganistão dada a impopularidade do regime religioso fundamentalista dos Talibans.
Todavia o governo norte americano não respeitou, no Afeganistão, ao fazer a guerra, a legalidade internacional com os prisioneiros de guerra. Negou-lhes esse estatuto, fê-los transportar para fora do Afeganistão e prendeu-os em bases militares longínquas, como Guantânamo, em Cuba, onde tem mantido indefinidamente presos sem lhes reconhecer direitos de defesa.


9. A GUERRA NO IRAQUE

Quando, no Afeganistão, a guerra deixou de mobilizar grande número de soldados, o governo norte americano voltou-se para o Iraque, país com as maiores reservas de petróleo a seguir ao reino da Arábia, sob o pretexto de ter armas de destruição em massa e de combate ao terrorismo alegadamente apoiado pelo Iraque. O argumento não convenceu a opinião pública internacional e os governos de alguns países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Apesar da forte pressão norte americana a favor da guerra ao Iraque, o Conselho de Segurança não considerou haver razões para a guerra.
O governo dos Estados Unidos da América do Norte, apesar disso, declarou e fez ilegalmente a guerra ao Iraque apoiado em países anglossaxónicos, de que se destacou a Inglaterra e em alguns outros, não obstante a guerra contra um país soberano só poder ter lugar no caso de legítima defesa (art. 51º da Carta da ONU). Fora do quadro da legítima defesa, só o Conselho de Segurança das Nações Unidas pode autorizar a guerra e apenas quando verificar a existência de ameaça contra a paz, ruptura da paz, ou acto de agressão (arts. 39º e 42º da Carta).
A campanha militar afigurou-se fácil para o governo norte americano. Por isso fez então   declarações que prenunciavam futuras declarações de guerra contra a Síria (por pressão de Israel), o Irão (para dominar as suas reservas de petróleo) e a Coreia do Norte (para dar sinal de poder sobre um país às portas da China).
A campanha militar no Iraque mostrou que, para se conquistar um país, não basta superioridade militar. É preciso que a população aceite a ocupação. Isso não aconteceu no Iraque e continua a não acontecer. A ocupação militar norte americana do Iraque é precária e tem obrigado à presença de cerca de 150.000 militares e a enormes despesas.
Por isso o governo norte americano não passou a acções de guerra contra o Irão e a Síria. A manutenção de 150.000 militares no Iraque não lhe permite alargar a guerra a outros países sem risco de oposição da opinião pública norte americana e de agravamento do enorme défice das contas públicas.
No que respeita à defesa dos direitos humanos o governo norte americano deixou e recomendou que os prisioneiros iraquianos fossem objecto de tortura e tratamento degradante, como na prisão de Abu Graib, Guantânamo e outras.


10. NÃO SE PODE SER ARROGANTE
Os Estados Unidos da América do Norte são país poderoso, mas nem por isso podem deixar de respeitar o direito internacional, pensando poder infringi-lo sem sofrer por isso consequências. Os milhares de milhões de pobres do mundo e, mesmo nos países tidos como ricos, as pessoas com espírito crítico que lêem as notícias dos jornais, vêem as das televisões e ouvem as das rádios, procurando perceber o que dizem, o que calam e o que distorcem e as razões por que o fazem, não aceitam a política internacional conduzida ao sabor dos interesses norte americanos, sem respeito pelo direito internacional e a Organização das Nações Unidas e sem ter em conta os valores éticos, o direito internacional e os direitos humanos. A revolta e o desespero dos muitos milhões que no mundo sofrem e sentem a injustiça da política internacional norte americana podem não os deixar calar. Mesmo um conhecido judeu ( Noam Chomsky) reconheceu: « A história dos Estados Unidos da América do Norte não é bonita. Limparam a população nativa da América (os índios). Entraram brutalmente no México e cometeram atrocidades horríveis na América Central e nas Caraíbas. Foram às Filipinas matar meio milhão de pessoas.»


11. O PRETEXTO DO COMBATE AO TERRORISMO
O governo dos Estados Unidos da América do Norte tem vindo a justificar as suas acções de força com fundamentos de ocasião para impor os seus interesses. O pretexto para a agressão ao Iraque foi a alegada  necessidade de eliminar o armamento de destruição em massa. Como essas armas não existiam, passou a justificar a agressão com a presumida possibilidade de as vir a ter, e de alegadamente o regime iraquiano dar apoio ao terrorismo, tendo o cuidado de não definir o conceito de terrorismo.
Na verdade, o que é terrorismo?
Tem sido rótulo, com intenção de infamar, que os mais poderosos põem aos mais fracos que se lhes opõem. Os levantamentos dos povos africanos contra o domínio colonial era terrorismo para os colonizadores. A resistência dos palestinianos ao ocupante israelita é terrorismo para o estado de Israel. Os ataques a instalações militares norte americanas em outros países pelos que se opõem à sua presença aí é terrorismo para o governo dos Estados Unidos da América do Norte.
As Nações Unidas têm-se empenhado em definir “terrorismo” para que, nos conflitos, não haja agressões contra civis inocentes. Mas não se tem chegado à definição internacionalmente aceite de “terrorismo” porque os governos dos Estados Unidos da América do Norte e de Israel querem que a definição seja à medida dos seus interesses.
Não é aceitável que o governo norte americano invoque a necessidade de combater o terrorismo para justificar agressões contra outros países enquanto se não se definir o conceito de terrorismo no âmbito do direito internacional.


12. HÁ QUE TIRAR LIÇÕES PARA O FUTURO

O governo dos Estados Unidos da América do Norte, com o pretexto de responder aos terríveis acontecimentos de 11/9/2001 e de combater o terrorismo, organizou uma rede militar permanente de policiamento à margem da Organização das Nações Unidas, arrogando-se o direito a fazer a guerra aos países que acusa de contrariar os interesses americanos, como no Iraque, onde desde a primavera de 2003 fazem guerra ao povo iraquiano, com a destruição da sua economia e a morte de milhares de pessoas.
A globalização financeira, económica e de informação está a ser servida pelo braço policial militar global americano à margem do direito internacional. É altura de o governo americano reflectir como parece poder fazer com o actual presidente Barak Obama. Tem vencido o desejo irracional de vingança e o espírito de cruzada e de domínio mundial, acrescentando mais mortes às mortes, mais crimes aos crimes e maior desespero aos injustiçados do mundo.
No plano dos direitos humanos, o governo dos Estados Unidos da América do Norte reintroduziu o que se julgava definitivamente afastado: a prisão sem culpa formada por tempo indefinido e sem direito de defesa, a prática da humilhação e da tortura de prisioneiros, a criação de “ilhas” de “não direito” onde mantém detidos os que se lhe opõem, negando-lhes o estatuto de prisioneiros de guerra e o direito de defesa.
O que declarou o presidente norte americano Bush, referindo-se a Bin Laden, « como no velho oeste (dos cowboys) procura-se morto ou vivo» é mau prenúncio. Não no achando, ou não no querendo achar, nem morto nem vivo, apesar do colossal poder militar, económico e tecnológico, continuou o governo dos Estados Unidos da América do Norte a arrogar-se o direito de intervir pela força onde decidir invocando os seus interesses e a luta contra o terrorismo que cada vez mais fomenta com a sua arrogância e acções unilaterais.
O mais retrógrado fundamentalismo islâmico nascido no reino da Arábia na segunda metade do século 20 soprado e organizado pelos sucessivos governos norte americanos no âmbito da chamada Guerra Fria é bem o contraponto da política do governo norte americano seguida pelo presidente Bush. Como Diabo e Grande Satã, na dança infernal de que estão a ser vítimas os povos do mundo.


13. A ELEIÇÃO DE BARAK OBAMA PARECE ESTAR A FAZER MUDAR DE RUMO A POLÍTICA INTERNACIONAL DOS EUA
A eleição de Barak Obama em Novembro de 2008 e a sua entrada em funções em Janeiro de 2008 pode levar a significativa alteração da política internacional dos EUA. Foi anunciado o fim, a prazo médio, das prisões ilegais de Guantânamo e outros locais. Declarou-se o fim da tortura como método (ilegal e desumano) de obter confissões. Foi mostrada disposição de negociações com o Irão. Foi declarado que em cerca de ano e meio as tropas estadunidenses deixarão o Iraque. Foi nomeado mediador para o conflito entre a Palestina e Israel que se mostrou capaz de, na Irlanda do Norte, concertar a paz entre o IRA e os protestantes realistas.
Mas não parece que o actual presidente dos EUA, Barak Obama, tenha tomado consciência de que, para ser retirado o forte apoio que os movimentos religiosos fundamentalistas islâmicos têm entre as centenas de milhões de milhões de árabes e muçulmanos, é indispensável acabar com o conflito entre a Palestina e Israel numa base de justiça e retirar as tropas dos EUA das bases militares dos EUA na Arábia Saudita.
Se isso for feito, o actual vivo apoio do mundo muçulmano aos movimentos fundamentalistas religiosos islâmicos continuará a reforçar-se.
É necessário que o actual governo dos EUA presidido por Barak Obama tome consciência de que a defesa dos interesses estadunidenses não se faz com arrogância, com espírito de vingança e de retaliação, com manifestações de força sem alargados apoios internacionais e decisão da ONU, sem procurar ouvir as razões dos outros por menos razoáveis que pareçam as suas posições, sem análise objectiva da base dos conflitos. Barak Obama tem mostrado ser capaz de reflexão e de prudência. Espera-se que se não deixe cegar pela influência judaica baseada sobretudo no dinheiro e na comunicação social dos EUA e de Israel.
Se isso acontecer, isto é se não for capaz de levar Israel a paz justa com os palestinianos, Barak Obama não levará a bom termo a luta contra os movimentos religiosos fundamentalistas islâmicos.

Sem comentários:

Enviar um comentário