terça-feira, 5 de abril de 2011

A China vai tornar-se o país com maior influência no mundo nas próximas décadas

A China vai tornar-se o país com maior influência no mundo nas próximas décadas

António Bica

            Antes da chegada ao poder, na China, do partido comunista, em 1949, os chineses viviam na mais dura miséria, sendo ocupado o seu litoral, até à década de 1930, pelos EUA e por alguns países europeus (Inglaterra, França e Alemanha). Com a década de 1930 chegou a invasão militar japonesa que expulsou da China os “ocidentais”, massacrou centenas de milhares de chineses e se propunha dominar para sempre o litoral chinês, a Manchúria e a Formosa, que o Japão havia optado pela via capitalista antidemocrática surgida após a primeira grande guerra, paralela à dos fascismos europeus e sul-americanos.
O partido comunista chinês, que se organizou no início da década de 1920 nas cidades do litoral, foi combatido pelo Kuomintang, partido então no poder, liderado por Chang Kai Chek. Para sobreviver, a direcção do partido comunista conduziu os membros mais combativos para as províncias do noroeste, no êxodo conhecido por “Longa Marcha”. Aí resistiu ao Kuomintang, e passou a combater os japoneses, ao contrário de Chang Kai Chek, que com eles contemporizou.
A luta dos comunistas contra os japoneses, acompanhada da entrega dos latifúndios aos camponeses, que pagavam pesadas rendas, prestigiou-os.
Em Agosto de 1945 os EUA lançaram bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasaki. Em consequência disso o governo japonês rendeu-se incondicionalmente, ficando sem comando militar eficaz, sem reabastecimento nem substituição dos efectivos do exército de ocupação da China. Isso possibilitou aos comunistas chineses uma ofensiva vitoriosa contra os japoneses, enquanto as forças do Kuomintang se mantiveram na defensiva.
O povo chinês passou por isso a apoiar os comunistas contra o Kuomintang, que foi derrotado e se acantonou em Taiwan, porque os EUA impediram os comunistas de aí desembarcar.
            Em 1949 foi declarada a libertação da China continental e a constituição da República Popular da China liderada pelo partido comunista.
Desde então a China procurou caminho para o desenvolvimento económico, social e político e para a sua afirmação no concerto das nações. Foi tarefa difícil, porque no campo económico partira da destruição causada pela guerra, da ausência de escolaridade para a generalidade do povo, da falta de serviços de saúde, de vias de comunicação e de indústria. Os EUA vetaram no Conselho de Segurança da ONU o reconhecimento da República Popular da China, impondo o governo de Taiwan (Formosa) como sendo o da China, situação que permaneceu até meados da década de 1970, em que os EUA estabeleceram relações diplomáticas com a China e deixaram de impor o governo de Taiwan como representante da China.
\           Pouco depois o presidente Mão morreu e a liderança passou para Xiao Ping, que, bem entendendo que o desenvolvimento social e político tem por fundamento o desenvolvimento económico, levou o partido comunista chinês, no início da década de 1980, a via de desenvolvimento semelhante à que foi seguida pelo Japão, após a mudança política que fez no início da segunda metade do século 19, e foi continuada depois da derrota na segunda grande guerra: produção de bens assente nas iniciativas privada e pública sob orientação estratégica do Estado.
A opção por esta via de desenvolvimento, com apelo ao sentimento de patriotismo dos muitos milhões de chineses que haviam emigrado e eram nos países onde viviam empresários capazes, levou ao afluxo à economia chinesa de grandes massas de capital e de capacidade tecnológica.
Em simultâneo a China procurou melhorar o ensino, as infra-estruturas de transporte, de comunicações, controlar o crescimento demográfico, e manter-se discreta em política internacional, evitando hostilizar os EUA sem se lhes subordinar.
Em consequência a economia chinesa entrou em crescimento acelerado, com taxas de crescimento anual de cerca de 10%.
Com o desenvolvimento económico e o consequente desenvolvimento social e político, a China procurou retomar o controlo político dos territórios que havia cedido à Inglaterra (Hong Kong), a Portugal (Macau) e da ilha de Taiwan (Formosa) que em 1949 se separara da China com o activo apoio dos EUA.
Hoje a República Popular da China, segundo a imprensa económica, terá ultrapassado o Japão em produção de bens, o que a guinda à posição mundial de segunda potência, embora não procure reivindicar esse estatuto.
O governo chinês, sob a liderança do partido comunista, tem revelado sensatez, moderação, paciência, mas determinação na defesa da sua autonomia e no desenvolvimento económico.
O tamanho geográfico da China e a sua população (um quinto da mundial), a cultura de disciplina, a determinação da direcção política em prosseguir no caminho do desenvolvimento económico e da afirmação política sem arrogância nem agressividade militar poderão levar a China, em algumas décadas, a tornar-se o país mais influente no mundo.
Pelo seu passado histórico milenar, não parece haver que temer que a China se transforme em potência militar agressiva e expansionista como foram alguns países ocidentais e o Japão.

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